sábado, 5 de outubro de 2013

SERESTA AO LUAR

Quero agradecer ao poeta Pedro Galuchi que gentilmente atendeu nosso pedido permitindo que o texto abaixo fosse publicado aqui no "Choro Nosso".

Não me corrijam os perfeccionistas.
Eu sei a seresta é em local fechado e a serenata desloca a cantoria pelas ruas.
Essa era uma seresta ao luar.
No coreto a banda tocava seus boleros e canções do século passado.
Em volta um público bem democrático.
O bêbado cantava em dueto com si mesmo tropeçando seus passos de bailarino solitário entre os casais.
Uma criança passeava seu carrinho nas escadas do coreto enquanto os avós dançavam.
A roda soltou e foi interromper os bailarinos para que o avô consertasse o brinquedo.
Senhores engraçavam-se com moças mais novas.
Aproximavam-se barrigas de “tanquinho” a outras parecendo trouxas de lavadeira.
Um ou outro casal dominava bem o mister da dança. A maioria era dois para cá, dois para qualquer lado.
O pé de baixo é meu.
Não o meu, porque não gosto de dançar.
Gosto de assistir.
Ninguém dava a mínima a ela.
De Fascinação a Carinhoso alternavam-se os acordes dos violonistas enchiam o ar de emoção e corações batiam felizes.
O menestrel incentivava os casais exortando todos a se aproximarem.
Não havia realejo, mas o pipoqueiro vendia seu produto àqueles que paravam para descansar um pouco.
Sorrisos espantavam alguma tristeza.
O espaço foi ficando pequeno para tanta gente.
Ela, solitária, somente, assistia quieta.
O garoto cansou-se e pediu colo à avó que transferiu a responsabilidade ao avô e foram embora.
Os casais giravam seus amores, sonhos, saudades.
O bêbado girava mais que os casais.
Mais um pouco poderia se transformar na vassoura da festa.
Dançava-se Jovem Guarda e assim as horas voaram e a última dança, a última dança já vai começar.
Fico em pé olhando.
Ela lá.
Quase parada num olhar perdido.
Parece ter ficado contente por haver notado sua presença e diria que sorriu para mim desinteressadamente.
Na verdade, olhava para todos, tal dama da noite.
Agora, pessoal, nós vamos embora, anunciou o cantor.
Casais aplaudiram, pedindo mais uma seleção.
Um “pout-pourri” rápido e cada casal seguiu sua vida.
E ela olhando com um ar feliz.
Num gesto, que devem ter me tomado por maluco, fiz-lhe um aceno, me despedindo.
A Lua lá em cima piscou-me.
Tenho quase certeza que foi para mim.



Pedro Galuchi

 
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